"quando os rios se cruzam" | review

outubro 14, 2024

Quando os rios se cruzam, o segundo livro da autora Rita da Nova, leva-nos a conhecer uma Leonor do presente a desabafar com uma estranha sobre a Leonor do passado e sobre os demónios que carrega consigo, fazendo-nos viajar até Turim.



Quando, em 2012, decidiu ir de Erasmus para Turim, isso significou que Leonor poderia começar de novo, encontrar o balão de oxigénio que precisava para se afastar da mãe controladora e talvez até libertar-se da pessoa reservada e observadora que tinha aprendido a ser em casa. Num sítio onde ninguém a conhecia, Leonor poderia ser quem quisesse. Por isso, na cidade italiana, ela descobre partes de si que ignorava existirem, muitas delas novas e entusiasmantes. Contudo, há também um outro lado de si que se revela, uma parte que a envergonha e a assusta, atitudes em que não se reconhece e cujas consequências carregará para sempre. Dez anos depois, Leonor adia mais uma vez o reencontro com o passado, enquanto revela a uma estranha tudo o que aconteceu naqueles meses e a forma como o fogo acabou por lhe roubar a inocência.


Quando li As Coisas Que Faltam (podem ler a review aqui) fiquei imediatamente com vontade de ler todos os livros que a Rita viesse a escrever, porque acho que ela tem algo de muito especial na forma como escreve. Gosto muito da forma como ela cria personagens com contornos reais, que não são puramente boas ou más, com quem todos nos conseguimos identificar, pelo menos, com uma parte. Senti isso com a Maria Luís e voltei a senti-lo com a Leonor. Sabemos que nem uma nem a outra são perfeitas, reconhecemos erros e defeitos nas duas, no entanto, não conseguimos não empatizar com elas e, inclusivamente, encontrar algo de nós em cada uma delas - eu senti isso, pelo menos - e acho que isso é uma capacidade que nem todos os escritores têm. 



Apesar de ter gostado muito do primeiro livro, este Quando os rios se cruzam "roubou-me" o coração e despedaçou-o um bocadinho, devo admitir. Desde o primeiro capítulo que fiquei logo agarrada à história, porque me tornei naquela estranha a quem a Leonor contava um pouco do seu passado e os acontecimentos que a tinham trazido àquele preciso momento. Adorei esta dinâmica que a Rita criou na história, alternando o passado com o presente, tendo aquela personagem misteriosa que pouco intervém e que, acima de tudo, apenas ouve o que Leonor guarda para si há tantos anos, escolhendo o momento certo para dizer as palavras certas. 


A acompanhar a belíssima narração da Leonor, que nos leva a sentir tudo o que ela sente, as frustrações e as alegrias, somos também levados a vaguear por Turim e a Rita consegue semear o bichinho de querer conhecer a "cidade perdida no norte de Itália" que nos descreve. Deixou-me também com vontade de saber mais sobre o futuro daqueles personagens secundários que fazem parte da história da Leonor, de saber como foi a sua vida depois daqueles meses em Turim, se foram tão importantes para eles como para a Leonor. Se, por um lado, acho que a Rita terminou a história da forma certa, por outro lado gostava de ter lido ainda mais, de saber como ficou a relação da Leonor com a mãe, de saber o que acontece quando a Leonor, finalmente, decide atravessar a estrada depois da conversa com a estranha. E esta vontade só fica porque a escrita da Rita é mesmo cativante e de uma simplicidade muito bonita. 



Como já disse acima, apaixonei-me por este livro e é exatamente por isso que recomendo muito que o leiam. Se querem uma história que vai mexer convosco, que vos vai criar conflitos internos, que vos deixa ansiosos por saber o que realmente aconteceu, então este é o livro certo para vocês. A Rita conseguiu surpreender-me muito e prender-me do início ao fim com este livro, por isso está de parabéns!

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