"As Coisas Que Faltam" | Review

julho 22, 2024

As Coisas Que Faltam traz-nos a história de uma mulher à procura de descobrir quem é e qual o seu lugar no mundo. Aos oito anos, Ana Luís pediu à mãe, pela primeira vez, para conhecer o pai. Era habitual a mãe dizer-lhe que não a tudo, mas, de todas as respostas negativas que estava habituada a receber, aquela foi a que lhe doeu mais. Ana Luís cresceu a sentir que lhe faltava algo e que não pertencia a lado nenhum. A convivência difícil com a mãe, uma mulher fria e dominadora, aprisiona-a num lugar solitário. É na figura do pai, que não conhece, que deposita todas as suas esperanças: ele é a peça do puzzle que lhe falta e acredita que, quando o conhecer, a sua vida vai finalmente fazer sentido e Ana Luís sentir-se-á completa. 



Este é o primeiro livro de Rita da Nova e traz-nos uma história de grande densidade emocional, que explora a complexidade da identidade humana, a importância das relações familiares e a forma como estas nos moldam, levando a que algumas histórias se repitam de geração em geração. A família é a peça central deste livro e fez-me refletir muito sobre como a família em que nascemos e crescemos molda a nossa forma de ser e a nossa forma de agir perante as situações da vida - se tivéssemos nascido numa família diferente, seríamos completamente diferentes daquilo que somos hoje. Além da forma como crescer sem pai e sem saber nada dele pode impactar uma jovem adolescente no seu crescimento, a história também mostra a forma como essa jovem é impactada pela relação distante com a mãe e pela falta de comunicação entre ambas. 


Eu tinha muitas expectativas para este livro, porque sigo a Rita há já alguns anos e sempre gostei muito de ler as suas publicações no blogue e de a acompanhar, além de todos os feedbacks incríveis que ouvi deste livro. Comecei a medo justamente por isso, por ter expetativas muito altas e ter medo de sair desiludida. Mas não, a Rita surpreendeu-me. Trouxe um livro "fora da caixa", diferente do que se vê por aí, que aborda a fundo um tema que, normalmente, é abordado de forma superficial e secundária a uma outra narrativa. A escrita da autora é simples e acessível, mas muito cativante. O facto de ser fácil de perceber e sem demasiados floreados faz-nos entrar na história com maior facilidade e compreender melhor as personagens. Acho que isso faz com que este seja um livro para qualquer pessoa, que não tem propriamente um target muito específico: acho que pode ser lido por diferentes pessoas, de contextos sociais diferentes, de diferentes idades, e cada uma tirará uma reflexão diferente consoante o seu contexto pessoal e eu acho que isso é importante. 



A Ana Luís, a personagem principal deste livro, é muito diferente de mim, com um contexto familiar e social diferente do meu, mas a forma como está escrita faz com que seja muito fácil empatizar com ela, mesmo quando ela faz coisas menos corretas. Gostei muito de, ao longo das páginas, ir observando o seu crescimento, a sua evolução e a sua clareza relativamente ao mundo que a rodeia, mesmo perante as situações menos boas da vida. É igualmente bom ver que, ao ver o crescimento da filha, também a mãe vai crescendo e evoluindo, tentando tornar-se alguém melhor para apoiar a filha e corrigir alguns dos erros do passado. Apesar da relação sempre distante, foi bonito ver a forma como ambas conseguiram chegar a um "ponto de encontro" - talvez por perceberem que as suas histórias não são tão diferentes assim - e criar uma relação mais pacífica e bonita.


Eu gostei muito deste livro, fui altamente surpreendida! Acho que o final tem tanto de triste como de belo, se é que isto faz sentido. Por um lado, é triste que a Ana Luís não tenha alcançado o desfecho que ela desejava, mas, por outro lado, é bonito vê-la aceitar isso e conseguir criar o seu próprio "final feliz", com duas pessoas importantes para ela. E eu gostei muito disso, de não ser um final perfeito de conto de fadas, mas sim um final real. 


Recomendo imenso este livro, a toda a gente, porque acho mesmo que pode levar a reflexões importantes. Não esperem um livro de um ritmo rápido onde estão sempre a acontecer coisas, mas esperem um livro onde é fácil encontrarem pontes que vos ligam às personagens e vos fazem compreendê-las melhor, porque, no fundo, são pessoas normais como todos nós.



1 comentário:

  1. O mês passado estive num evento literário onde a Rita esteve a falar, aproveitei e comprei esse livro para ela assinar. Também já sigo a Rita ha alguns anos no blog e estou muito curiosa para a ler em romance! :) Tenho ouvido muito boas críticas, principalmente ao primeiro livro

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