"Retrato de Uma Espia" | Review
Daniel Silva leva-nos novamente ao universo de Gabriel Allon, demonstrando, com este livro, o poder que uma mulher extraordinária pode ter para fazer a diferença entre a vida e a morte, num mundo altamente perigoso. Em Retrato de Uma Espia, encontramos Gabriel em Londres com a sua esposa, Chiara, para um fim de semana que se esperava agradável. Contudo, aquele bonito dia de outono foi arruinado por duas bombas que rebentaram em Paris e Copenhaga... E por uma terceira prestes a rebentar em Covent Garden, onde Gabriel tenta a todo o custo deter o homem prestes a assassinar dezenas de pessoas, mas acaba por ser atirado ao chão e por ficar a observar um verdadeiro pesadelo tornar-se realidade, sem poder fazer nada. Tendo em conta todos os acontecimentos, e apesar de se encontrar a gozar da sua reforma e da sua vida como restaurador de arte, Gabriel é chamado a Washington para ajudar a CIA numa nova guerra contra o terrorismo - ainda sem imaginar que vai precisar da ajuda de uma pessoa muito importante.
Apesar dos livros que acompanham a história do mítico espião e restaurador de arte, Gabriel Allon, terem uma determinada ordem cronológica, é fácil lê-los fora dessa ordem e é isso que tenho feito, visto que vou comprando os seus livros aos poucos, quando surgem nalguma promoção ou em segunda mão, como foi o caso deste. Isso não tem qualquer impacto na compreensão da história, visto que os episódios são todos, mais ou menos isolados, e é sempre dado contexto sobre as personagens ou histórias anteriores que sejam mencionadas. Por isso mesmo, sempre que posso volto a este universo que me cativa tanto, sabendo que nunca fico desiludida pela escrita do Daniel Silva e pelas aventuras do Gabriel Allon e da sua equipa.
Este foi talvez um dos meus livros preferidos do autor até agora, porque, ao misturar ficção com factos da realidade (como sempre faz), aborda um tema que continua, até aos dias de hoje, a ser muito importante de ser falado: a realidade das mulheres na Arábia Saudita e em países cuja religião islâmica é o centro da organização da sociedade. Apesar de sabermos que algumas coisas têm mudado em alguns desses países, sabemos também que estas mulheres continuam a viver como prisioneiras dentro das próprias casas e famílias e Daniel Silva aborda um bocadinho esse tema, ao apresentar-nos Nadia al-Bakari, uma árabe que cresceu e vive como ocidental, mas que luta pelos direitos das suas compatriotas e que, ao visitar o seu país, tem de abdicar de todos os direitos e "regalias" de que goza ao viver no mundo ocidental.
Nadia é uma das personagens mais impactantes deste livro, pela sua história, pela sua personalidade forte, pela sua garra e vontade de lutar por todas as mulheres que se vêem privadas da sua liberdade, pela sua resiliência e pela sua capacidade de se sacrificar para salvar os outros. Esta mulher incrível deixa a sua marca em Gabriel e também a deixou em mim, tornando este livro tão especial. Apesar de ser um livro ficcionado, é sempre possível aprendermos com este livro - e com as restantes histórias de Daniel Silva - porque ele tem sempre a preocupação de trazer factos reais para o livro, com contornos da história do mundo tal como ela é e ajudando-nos a perceber como algumas coisas funcionam, apesar de serem realidades tão distintas da nossa.
Como sempre, não podia deixar de recomendar este livro a todos os fãs de Daniel Silva e de livros policiais com algum contexto histórico.
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