"Almoço de Domingo" | Review

outubro 30, 2023

O livro de que vos venho falar hoje é o primeiro que li do autor em questão, embora anteriormente já tenha lido alguns textos soltos. Aliás, a primeira vez que li alguma coisa deste autor estava ainda no secundário e apareceu-me um texto num dos livros de exercícios de português. Na altura, gostei tanto que soube logo que havia de ler alguma coisa do José Luís Peixoto. Por não ter grande feedback em relação aos livros e ao autor, adicionei vários livros à minha wishlist, mas acabei por nunca comprar nenhum. Quando, em 2021, ele lançou este livro como forma de celebrar os 90 anos do Comendador Rui Nabeiro, eu soube que era por ele que havia de começar a descobrir a escrita de José Luís Peixoto - sobretudo porque Rui Nabeiro também me desperta alguma curiosidade por toda a influência que teve no nosso país e por tudo o que sempre ouvi dizer (bem) dele.



Almoço de Domingo, de José Luís Peixoto, é um romance e uma biografia que abarca várias gerações entre 1931 e 2021, tudo a partir do retrato de uma família. Acompanhamos, portanto, pedaços da vida de um ilustre homem, paralelamente à história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil Espanhola, pelo 25 de abril e por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo. (adaptado)


Há pessoas que se tornam imortais pelo legado que deixam e eu acho que esse é o caso de Rui Nabeiro - um homem que veio de uma família pobre e construiu o seu legado para deixar às gerações futuras, legado esse que permitiu ajudar dezenas (ou mesmo centenas) de famílias. Se, antes de ler este livro, já admirava este senhor por tudo o (pouco) que conhecia e ouvia dizer, este livro deixou-me a admirá-lo ainda mais


Apesar deste livro ser, de certo modo, uma biografia, não o é no sentido tradicional. É um romance e um livro de memórias, com uma escrita que, apesar de ser em prosa, é muito poética. Este livro nasceu de conversas entre o escritor e o Rui Nabeiro (cujo apelido nunca é mencionado durante todo o livro, apesar de sabermos desde a primeira página de quem se trata) durante a pandemia e José Luís Peixoto pegou nas memórias do campomaiorense e transformou-as numa viagem entre o passado e o presente. As memórias desde a infância até à vida adulta vão sendo alternadas com o momento presente, o fim-de-semana em que o protagonista celebra os seus 90 anos, numa escrita fluída, mas poética e, por vezes, meio abstrata que, não nos dando muitos pormenores, nos leva a conhecer um pouco mais deste homem. 


Acima de tudo, José Luís Peixoto conseguiu homenagear Rui Nabeiro ao partilhar um pouco daquilo que era a sua essência: o amor pela sua família e o seu desejo constante de ajudar os outros. Há passagens realmente bonitas e algumas reflexões muito interessantes que nos levam também a nós mesmos a refletir. Não é uma biografia tradicional e eu acho que isso torna o livro ainda mais especial. Gostei mesmo muito e recomendo imenso a leitura!



1 comentário:

  1. Li este ano o "Cemitério de Pianos" e não fiquei impressionada por aí além mas ainda quero continuar a ler José Luis Peixoto, e este livro acho que será um dos próximos :)

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