"A Educação de Eleanor" | Review

março 29, 2021

Diz-se que a leitura dá-nos um sítio para ir quando temos de ficar onde estamos e acho que isso nunca foi tão verdade para mim como nos últimos tempos. Como a maioria da população portuguesa, estou em confinamento e ando a sentir-me verdadeiramente saturada, muito mais esgotada do que da primeira vez, sobretudo porque estou sem aulas, sem exames, sem estágio (bem, estava sem estágio à data em que escrevi isto) e basicamente sinto que passo os dias a olhar para as paredes e a pensar no que vou inventar para fazer a seguir. Por isso, ler tem sido a melhor forma de sair de casa sem realmente sair e tem sido uma companhia fundamental


A Educação de Eleanor, de Gail Honeyman, foi o livro que li no início de fevereiro e revelou-se uma tremenda surpresa. Confesso que comecei esta leitura com as expetativas bem em cima, pois todas as pessoas que eu já tinha ouvido falarem deste livro, tinham tecido enormes elogios, e, nas primeiras páginas, senti-me ligeiramente defraudada... Mas já lá chegaremos. 


A Educação de Eleanor conta-nos a história de Eleanor Oliphant, cuja sua vida ela acredita ser perfeitamente normal. É uma mulher de 30 anos, algo excêntrica e não muito dotada na arte da interação social, cuja vida solitária gira em torno de um trabalho das 9h às 17h, das suas rotinas, da vodca, refeições pré-cozinhadas e conversas ao telemóvel com a mãe, todas as quartas-feiras. Na mesma altura em que acredita estar apaixonada por um cantor local, Eleanor conhece Raymond, que trabalha no departamento de informática da empresa, e ambos socorrem um senhor que se sentiu mal no meio da rua, Sammy. Esse é o grande ponto de viragem na vida de Eleanor, mesmo que a mesma só se aperceba disso mais tarde, pois uma boa amizade cria-se entre os três e isso traz, à vida solitária de Eleanor, novas pessoas e a ajuda de Raymond vai revelar-se fundamental para Eleanor enfrentar os fantasmas do seu passado.

Como vos disse, não foi logo nas primeiras páginas que me apaixonei por esta história, porque tudo me parecia um pouco estranho e confuso. Eleanor é uma daquelas pessoas de quem parece difícil gostar logo de imediato, contudo vamos percebendo que ela é uma personagem composta por muitas, muitas camadas e que aquilo que vemos à superfície esconde muitos segredos. Com o avançar da história, à medida que fomos vendo as diferentes facetas de Eleanor e que vamos conhecendo um pouco mais sobre ela, comecei a gostar mais e mais e posso dizer que acho que foi um dos melhores livros que já li. 


Eleanor Oliphant é uma personagem extremamente bem construída, na minha opinião, e é lindíssimo vermos a sua evolução pessoal, vermos como vai deixando que Raymond penetre na sua vida solitária e a ajude a sair daquele buraco cheio de fantasmas do passado onde vive. Ao mesmo tempo que nos apercebemos da vida triste e solitária de Eleanor, também nos conseguimos rir com a sua total inadaptação à sociedade e às convenções sociais, assim como com o facto de ela não se preocupar minimamente com o que os outros pensam ou dizem e não ter qualquer tipo de filtros naquilo que diz. As páginas deste livro levam-nos numa grande montanha russa de emoções e reações e isso é capaz de ser uma das coisas que mais gostei: a capacidade de nos fazer rir e chorar, de nos fazer odiar e adorar a Eleanor. 

É óbvio que Raymond Gibbons é uma personagem crucial nesta história, sem nunca tirar o relevo e a importância de Eleanor. Apesar do aspeto pouco cuidado, da "falta de maneiras" e da personalidade trapalhona e despreocupada, Raymond mostra-se ser dono de um coração enorme e é um excelente amigo para Eleanor, permitindo que esta se reencontrasse a si mesma e reconstruísse a sua vida. 

Para terminar este post, quero só realçar uma coisa que adorei neste livro: não é uma história de amor entre duas pessoas, não é sobre uma possível relação amorosa entre Eleanor e Raymond (embora esteja um pouco subjacente a ideia). É sobre o crescimento e a evolução pessoal de Eleanor, sobre as suas lutas interiores, sobre a descoberta de si mesma, do amor próprio, da sua força de vontade. Recomendo imenso!




4 comentários:

  1. Ao início também torci o nariz, mas depois acabei por adorar!

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  2. Sabes que eu já coloquei algumas vezes esse livro no meu carrinho de compras online, mas ainda não me deu o clique para o comprar. Terei que repensar na situação depois de ler este texto. Obrigado por esta informação.
    Beijinhos.

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