Faculdade e Saúde Mental - o meu testemunho
Felizmente, vivemos numa época em que se começa a falar cada vez mais de saúde mental, da sua importância e da importância de estarmos atentos a todos os sinais que possam surgir em nós e naqueles que nos rodeiam. É certo que ainda há um longo caminho a percorrer, mas eu gosto de olhar para o copo meio cheio e de acreditar que já percorremos uma boa parte desse caminho.
Já muitas vezes passei por aqui a abordar esse tema, não só porque marca a nossa atualidade, mas porque é algo que me interessa e que eu valorizo muito. Hoje, decidi trazer-vos uma abordagem um bocadinho diferente e falar sobre como a faculdade tem impacto sobre a saúde mental dos estudantes. Ultimamente, esta vertente também tem sido mais falada, sobretudo porque a pandemia veio agravar este impacto. No início deste ano, a Associação Académica de Coimbra (AAC) fez um inquérito acerca do impacto do confinamento nos estudantes e os resultados foram bastante expressivos deste impacto: 7 em cada 10 estudantes da UC (Universidade de Coimbra) pensaram, pelo menos, uma vez em abandonar os estudos; 40% dos alunos referiu ter pensado "muitas vezes" ou "sempre" em abandonar a faculdade; 66% dos estudantes sentiram-se ansiosos muitas vezes e 55% sentiram-se frustrados; 20% dos estudantes tiveram pensamentos suicidas, uma ou mais vezes. (Podem ler mais sobre este inquérito aqui.) Estes valores são obviamente influenciados pela questão do confinamento, da pandemia, do ensino à distância e de tudo o que isso implicou para a saúde mental da população em geral - mas será que, fora do contexto de pandemia, os valores seriam assim tão diferentes? Deixo a reflexão para cada um.
Como estudante universitária, posso afirmar que já senti que a faculdade interferiu com a minha saúde mental, várias vezes. Sou uma sortuda por nunca ter tido problemas graves - como crises de ansiedade ou depressão -, mas já senti a minha saúde mental ser abalada por causa da faculdade. Primeiro, porque sou altamente perfecionista e, sendo o ensino superior muito mais exigente, exijo o melhor de mim e nunca estou satisfeita com os resultados que obtenho, quero sempre mais. Depois, há professores que se esquecem que, um dia, também foram alunos e que nos tratam como se nós tivéssemos de saber sempre tudo e não pudéssemos errar. Além disso, nem sempre sentimos compreensão da outra parte e há determinadas fases em que estamos completamente assoberbados com frequências, trabalhos, avaliações práticas e é difícil conseguirmos manter-nos com a cabeça no lugar - eu sinto imenso isso em época de avaliações, a ponto de acordar a meio da noite a pensar no que não fiz e no que ainda tenho por fazer, o que acaba por afetar o rendimento. Nem sempre sei lidar com a pressão e o stress, embora tenha melhorado bastante nisso, e, por vezes, isso torna-se ainda mais difícil quando não sentimos compreensão dos professores. Obviamente, o ensino à distância veio tornar as coisas ainda mais complicadas, porque acrescentou, a tudo isto, a falta dos amigos, uma maior desconfiança dos professores que os levou a pedir-nos que fizéssemos frequências em tempos ridiculamente curtos e uma desmotivação generalizada.
É importante percebemos que cada pessoa deve arranjar as suas próprias estratégias para lidar com estas situações, porque não funcionamos todos da mesma forma. Aos poucos, eu tenho começado a perceber o que funciona comigo, mas há uma coisa que eu acho que devia ser regra geral para toda a gente que é: temos sempre de ouvir o nosso corpo. Se ele se demonstra demasiado cansado, se não nos conseguimos concentrar, temos de aprender a parar. E isso é algo difícil para mim, porque se eu estou parada começo a stressar e a pensar no que devia estar a fazer, mas tenho aprendido que também é preciso saber quando temos de desligar. No meu caso, isso pode significar ler um livro, ver um episódio de uma série, ouvir música, dormir, ir ver o mar, estar com os meus amigos ou com a minha família... Coisas que me fazem sentir mais calma e que me ajudam a pôr as ideias no lugar. Não podemos permitir que o nosso corpo atinja o seu limite, temos de lhe dar tempo e deixar que ele se consiga restabelecer.
Como já disse, eu tenho a sorte de nunca ter passado por nenhum problema realmente grave. Mas eu sei que há muita gente aí que passa por situações verdadeiramente complicadas, que sofre bastante com tudo isto e, nesses casos, é fundamental saber quando precisamos de pedir ajuda. Se aquilo que fazemos não é suficiente, não está a resultar, então devemos falar com alguém e pedir ajuda a quem sabe. Não hesitem, nunca! Se não quiserem falar com os vossos pais, falem com os vossos amigos, com um professor, um psicólogo... Mas não deixem de pedir ajuda!
Há uns tempos, fiz um post com algumas dicas daquilo que eu costumo fazer para aliviar a ansiedade durante a época de avaliações. Se estiverem interessados, basta clicarem aqui.
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