"Bem-Bom" | O regresso ao cinema em pandemia

julho 26, 2021

Se bem me recordo, a última vez que tinha entrado numa sala de cinema tinha sido pré-pandemia, para ver a live-motion de O Rei Leão - o que parece ter sido há uma vida, sinceramente. Depois, com a chegada da pandemia e a constante alternância de abre-e-fecha, assim como uma alteração constante daquilo que se pode ou não fazer, acabei por não voltar a entrar num cinema até este mês de julho. E, antes de vos falar do filme que fui ver, acho importante partilhar um pouco daquilo que é o regresso ao cinema em tempos de pandemia

Acho que o mais importante é começar por dizer que é seguro, tal como tudo o resto, se cumprirem com as devidas regras de segurança. Neste momento, é possível comprarem os bilhetes antecipadamente (se preferirem), a lotação das salas está reduzida, de modo a permitir o distanciamento social, o uso de máscara é logicamente obrigatório e, no meu caso, até me foram dadas toalhitas desinfetantes a quando da compra dos bilhetes. Além disso, é passada a informação de que as salas são sempre devidamente desinfetadas entre cada sessão.

(Se quiserem, podem ler este post com banda sonora.)

Passando agora ao filme que me fez regressar ao cinema... Bem, calculo que, muitos de vocês, pelo título já tenham descoberto. Desde que foi anunciado nas redes sociais, este foi um filme que despertou muito a minha curiosidade por dois motivos - o elenco e o facto de falar sobre uma banda que existiu muito antes de eu nascer, mas da qual conheço tantas músicas e sei tantas letras, porque faz parte da coletânea de músicas que vai passando de geração em geração.


Bem-Bom é um filme português, cuja ação começa em 1979, quando 4 jovens são contratadas para formar uma girls band altamente revolucionária - uma das primeiras da Europa e um projeto totalmente inovador em Portugal. Além de cantarem e dançarem, as Doce vão escandalizar o país e tornar-se um grande fenómeno de popularidade. As Doce foram um quarteto musical, formado por Tozé Brito, que se manteve ativo desde 1979 até 1986 (embora, a formação original tenha sofrido alterações). O primeiro single (tão famoso até aos dias de hoje) foi Amanhã de Manhã e foi o primeiro de muitos sucessos. A banda participou em 4 edições do Festival da Canção, tendo ganho em 1982 com a música Bem-Bom (título do filme) e tendo representado o país na Eurovisão, em Inglaterra. Além de nos mostrar os primeiros anos da banda, desde a sua formação até à vitória do Festival da Canção, neste filme, nós vamos acompanhando um pouco sobre a vida de cada um dos elementos da banda, conhecendo mais das suas personalidades e do impacto que o fenómeno das Doce teve nas suas vidas, assim como acompanhando os choques entre elas devido às suas personalidades fortes e distintas. 

Como já disse em cima, as Doce existiram muitos anos antes de eu ter nascido, mas a marca que deixaram na música portuguesa foi de tal maneira relevante que, ainda hoje, a maioria das pessoas, de diversas gerações, cantam as letras das suas canções. Este filme levou-me ao cinema por ser uma oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a cultura musical portuguesa e também sobre a sociedade portuguesa, em si. Para mim, foi incrível perceber o quão "à frente do seu tempo" eram as Doce, como Tozé Brito teve uma ideia altamente revolucionária para a época e como elas foram, certamente, um símbolo de liberdade para muitas mulheres. Algures no filme fala-se de que, apesar de a televisão ser já a cores, a mentalidade de quem a via continuava a ser a preto e branco, daí estas 4 mulheres terem sido um autêntico escândalo para muitos "padres e intelectuais", como as atrizes mencionam. Depois deste filme, fiquei mesmo a achar que, se as Doce tivessem sido criadas em 2021, poderiam criar tanta controvérsia como criaram nos anos 80. 


Muito mais do que acompanharmos a banda, nós somos levados a compreender como a fama não traz só coisas boas, sobretudo a 4 mulheres exuberantes, que marcam pela diferença e pela ousadia. As Doce foram vítimas de uma sociedade extremamente machista e retrógrada, que achava que menos roupa era sinónimo de ser "galdéria" ou "pornografia". Será que hoje seria tão diferente assim? Além de serem extremamente julgadas por quem as via, as 4 mulheres foram vítimas de machismo também pela editora a que estavam associadas - eram eles quem escolhiam o que elas vestiam, quer gostassem ou não, e o seu objetivo primordial era sempre só e apenas o lucro, menosprezando outras coisas mais importantes.

Acho que, pelo que já disse, é fácil compreender que eu adorei o filme. Adorei conhecer mais sobre a história das Doce, sobre os seus elementos originais, sobre os desfechos de cada um deles e sobre o fenómeno que elas foram, num tempo e numa sociedade que não as compreendiam bem. Sinto que, em Portugal, temos sempre tendência a criticar aquilo que é feito cá, sobretudo no que a cinema diz respeito, por isso acho que este filme merece mesmo imenso reconhecimento, desde o guião ao elenco, aos adereços... Foi incrível! Portugal produz muita coisa com qualidade, os portugueses é que nem sempre são capazes de o reconhecer. Por isso, se puderem, se tiverem ficado curiosos, recomendo a irem ver este filme, porque considero que vale a pena todos os cêntimos do bilhete.



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