"O Retorno" | Review
Uma das melhores coisas que as redes sociais me trouxeram foi a quantidade de pessoas que partilham conteúdos sobre livros e que me ajudam a aumentar a minha wishlist. A opinião de algumas pessoas influencia-me muito no que diz respeito à compra de um livro e foi por influência da Rita da Nova que decidi ler o livro de que hoje venho falar.
O Retorno, de Dulce Maria Cardoso, é um livro cujo enredo se dá no pós-25 de abril, em 1975, na época da descolonização. Em Luanda, os "brancos" preparam-se para regressar à "metrópole" e, em poucos meses, chegam a Portugal mais de meio milhão de pessoas. O processo revolucionário está no seu auge e os retornados são recebidos com desconfiança e hostilidade. Muitos não têm para onde ir, nem do que viver. Rui tem 15 anos e é um deles. Ao chegar a Lisboa, Rui, a mãe e a irmã ficam a viver num quarto de hotel de 5 estrelas a abarrotar de retornados - um improvável purgatório sem salvação garantida, que se degrada de dia para dia. O pai de Rui ficou em Luanda e ele não sabe se há de continuar a esperar a sua chegada ou assumir a sua morte. A sua adolescência torna-se, então, uma espera assustada pela idade adulta: aprender o desespero e a raiva, reaprender o amor, inventar a esperança. África está sempre presente, mas parece cada vez mais longe. [adaptado de Wook]
A escrita de Dulce Maria Cardoso foi uma estreia para mim e confesso que me lembrou de Saramago, mas não tornou nada difícil a leitura deste livro e até me deixou curiosa para conhecer mais da obra da autora. Gostei muito que ela tivesse pegado no ponto de vista de um adolescente retornado para escrever este livro, mostrando o quão influenciado ele pode ser por aquilo que ouve dos outros, pelo meio em que cresceu e pela educação que teve, mas também mostrando os momentos em que ele próprio percebe que tem de crescer, pensar pela sua própria cabeça e tomar decisões importantes. De um momento para o outro, Rui passa a ser o chefe de família e é obrigado a crescer rapidamente e eu gostei que nós tenhamos podido acompanhar os efeitos que isso teve no jovem rapaz, todas as questões existenciais por que passou, as suas dúvidas e até os pensamentos próprios de um adolescente de 15 anos.
Nunca tinha lido nada sobre os retornados e confesso que nunca tinha pensado no quão difícil terá sido para eles deixarem aquelas que eram as suas casas, as suas vidas, de um momento para o outro e regressarem a um país que, muitos deles, mal conheciam. Nunca tinha pensado que eles não olhassem para o 25 de abril e para a descolonização da mesma forma que as pessoas que viviam em Portugal. Foi uma boa reflexão para mim e uma experiência de crescimento pessoal pensar um pouco mais sobre isto e ler sobre este tema. Além disso, fiquei com muita vontade de conhecer um pouco mais da escrita e das obras da Dulce Maria Cardoso.
É, sem dúvida, uma leitura que eu recomendo vivamente. Já alguém desse lado leu O Retorno?
Não conhecia, confesso.
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