"Capitães da Areia" | Review
Há livros de que ouvimos falar tanto que, eventualmente, acabam por parar na nossa wishlist sem sabermos muito bem do que falam - pelo menos, isto é algo que acontece frequentemente comigo. O livro de que hoje vos venho falar inclui-se nessa categoria: lembro-me de ouvir falar dele desde os tempos da escola, onde aparecia nas listas do Plano Nacional de Leitura, e, mesmo agora, ouço várias pessoas falar dele e sempre de forma positiva. Por isso, quando apanhei uma boa promoção no Wook, decidi comprá-lo e levá-lo de férias comigo.
Capitães da Areia, de Jorge Amado, é um livro que retrata o quotidiano de um grupo de meninos abandonados que vivem nas ruas da Bahia e que vivem uma vida de assaltos e violência, para garantirem a sua sobrevivência. Este grupo de crianças vivem em comunidade, num trapiche, e protegem-se como se fossem família, sendo liderados pelo destemido Pedro Bala. Ao longo do livro, acompanhamos não só o seu dia-a-dia, como também vamos conhecendo pessoas que os protegem e acarinham, que impactam a sua vida, nomeadamente uma jovem rapariga, Dora, que se torna a única menina a integrar o grupo e que acaba por impactar todos de uma forma muito especial.
Desde o início do livro, alguns dos membros do grupo são-nos apresentados em maior pormenor, de modo a conhecermos mais sobre as suas histórias e sobre as suas vidas, nomeadamente sobre como foram parar aos Capitães da Areia e a história por trás das suas alcunhas - Pedro Bala, Professor, Sem-Pernas, Pirulito, Gato, Volta-Seca, Boavida... E, sendo todos tão diferentes, todos têm algo em comum: estarem, de certa forma, sozinhos no mundo e desejarem por amor, carinho, proteção, assim como a sensação de sentirem que pertencem a algo.
No fundo, estas crianças não passam de um bando de criminosos em ascensão, que roubam e maltratam as pessoas. Contudo, é-nos completamente impossível odiá-los e olhar para eles como os maus da fita. Primeiro, porque são crianças; segundo, porque foi a vida que não lhes deixou outra alternativa. Tudo o que fazem é para garantirem a sua sobrevivência, para se protegerem uns aos outros e para garantirem que não caem nas mãos das pessoas que lhes querem fazer mal. São crianças que vivem em condições miseráveis, que não têm mais ninguém que não um Padre e uma mãe-de-santo para os ajudar, que tudo o que fazem é para poderem sobreviver.
O livro é marcado profundamente por uma crítica à sociedade da época, na qual as crianças pobres abandonadas iam parar a reformatórios, onde eram maltratados e torturados para serem "disciplinados". É também uma crítica vívida às desigualdades sociais e um grito de revolta de todos aqueles que vêem a sua liberdade ser-lhes retirada porque nasceram no lado errado da barricada.
Ainda me é difícil expressar as emoções que este livro despertou em mim, mas houve momentos em que eu desejei poder fazer algo por aquelas crianças, dar-lhes a mão e o carinho de que precisavam. É um livro que apela aos nossos sentimentos, à nossa humidade e empatia. Somos levados para uma realidade muito distante daquele que conhecemos, que nos faz questionar os nossos valores e as nossas ações. Sem dúvida, uma verdadeira obra de arte da literatura, que merece todo o reconhecimento que tem e ainda mais. Recomendo a 100% a leitura a todos os que ainda não tiveram oportunidade de o fazer.
Alguém desse lado já leu Capitães da Areia? Adorava ler as vossas opiniões!
Por acaso não conhecia, mas parece interessante :)
ResponderEliminarAcredita que vale a pena!
EliminarNão posso ler reviews que já quero ler os livros, por isso tento ler opiniões só depois já ter lido o livro ou então acerca daqueles que já sei que quero comprar. Neste caso, não foi por uma coisa nem outra. Fiquei com curiosidade porque já conhecia o livro mas nunca tinha lido sequer a sinopse nem nenhuma opinião acerca dele. Excelente trabalho a divulgar esta história, Inês.
ResponderEliminarSou exatamente como tu - leio uma review de um livro que não conheço e quero logo comprar o livro!
EliminarMuito obrigada, Andreia!