"Filhas Exemplares" | Review
Um dos meus grandes objetivos de leitura para 2022 era começar a ler mais não-ficção e confesso que não o estou a cumprir muito bem. Aliás, estou um bocadinho "atrasada" nos meus objetivos de leitura, porque tenho lido muito menos do que gostaria. Contudo, no meu aniversário, recebi dois livros e tenho aproveitado as promoções que por aí andam, por isso agora tenho uma motivação extra para ler, além de que tenho lido mais durante estas férias. Mas, voltando à não-ficção... Curiosamente, este não é o tipo de livros que eu tenha por hábito comprar, até porque, geralmente, são mais caros do que os livros de ficção. Contudo, recebi um no meu aniversário e é dele que vos venho falar hoje.
Filhas Exemplares, de Katherine Zoepf, leva-nos numa viagem pelo mundo árabe e apresenta-nos um pouco sobre as mulheres árabes da atualidade. Se, há alguns anos, não existia adolescência feminina, como nós, ocidentais, a conhecemos, no Médio Oriente, hoje em dia a realidade é diferente e existem mais mulheres árabes do que homens a frequentar as universidades. Muitas delas, têm até a coragem de sonhar com um casamento por amor, uma carreira e uma vida independente. As suas vozes parecem querer fazer-se ouvir, mas a verdade é que não as ouvimos. Parece que o papel da mulher nestas sociedades começar a mudar, mas estará mesmo? Não sabemos, porque nunca ouvimos as suas histórias. Esta autora decidiu acabar com o silêncio e ajudar estas mulheres a encontrar a sua voz. Dos testes de virgindade aos casamentos forçados das vítimas de violação com o próprio violador, da violência da polícia religiosa feminina à desonra de não ter filhos varões, este livro constitui um vislumbre de uma sociedade em lenta mutação. Se, por um lado, a ameaça da tradição continua a pairar sobre todos, por outro lado, existem cada vez mais mulheres notáveis que batalham na linha da frente para que, nas gerações futuras, tudo seja mais fácil. São estas as vozes da mudança. São estas as suas histórias. (fonte)
Depois desta pequena sinopse, acho que já não preciso de me alongar muito sobre aquilo que é o tema deste livro. Katherine é uma jornalista que trabalhou durante muitos anos no Médio Oriente, recolhendo testemunhos de jovens mulheres sobre aquilo que elas consideram injustiças e errado, mas também sobre aquilo que elas consideram que já mudou. Somos levados a ler sobre temas difíceis de digerir, sobretudo por corresponderem a uma realidade tão distante da nossa. Apesar dos temas fortes e pesados, a escrita da autora é de simples compreensão, o que torna a leitura bastante fácil e fluida. Apesar de, no meu entender, alguns capítulos serem um bocadinho extensos, o facto de este tipo de temas despertar tanto o meu interesse, fez com que fosse rápido de ler.
Confesso que esta foi uma leitura um bocadinho agridoce, porque, se por um lado, deixa no ar a esperança de que as coisas já começam a mudar e que as mulheres podem tornar-se mais dignas aos olhos da sociedade árabe, por outro lado, tomei uma maior consciência de alguns dos tormentos por que estas mulheres têm de passar apenas porque são mulheres. Além disso, enquanto lia este livro, continuavam a chegar notícias sobre as mulheres no Afeganistão, que, desde a tomada do poder pelo Talibã, continuam a perder os direitos que já tinham conquistado. É extremamente difícil tentar compreender tudo isto quando vivo numa sociedade livre e onde a mulher assume um papel muito mais preponderante. E, para mim, foi particularmente difícil de compreender a posição de algumas mulheres árabes relativamente a coisas que para nós são absurdas, mas que para elas são completamente normais e onde elas não veem problema algum. É nestes momentos que reconheço o quão privilegiada sou!
Dito isto, foi uma excelente leitura, que me fez refletir imenso sobre diversas questões e, acima de tudo, pela sorte que tenho de ter nascido mulher num país ocidental. É uma leitura que recomendo a toda a gente, porque acho que precisamos de começar a estar mais informados sobre temas fraturantes como este, mesmo quando não nos dizem respeito diretamente. Somos cidadãos do mundo e precisamos de perceber o que acontece à nossa volta e porquê.
Conhecem este livro? Se já leram, o que acharam?
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