"Nem Todas as Árvores Morrem de Pé" | Review

outubro 06, 2025


Nem Todas as Árvores Morrem de Pé é a estreia como autora de ficção da Luísa Sobral. Este livro é um romance sobre duas mulheres unidas pela desilusão e pelos cinquenta anos mais tristes da história da Alemanha. Emmi, que nasceu pouco antes da ascensão ao poder de Hitler na Alemanha, perde o pai na guerra e tem uma adolescência difícil, trabalhando desde muito cedo para ajudar em casa. É num bar aonde vai com os amigos depois do trabalho que conhece Markus, um homem de Berlim Leste que lhe escreve cartas de amor e por quem se apaixona perdidamente. 


Apesar de a mãe torcer o nariz ao seu casamento num momento em que a Guerra Fria está ao rubro, a irmã apoia-a e Emmi acaba por ir viver com Mischa, como lhe chama, para a RDA. Inicialmente, tudo corre de feição, mas, depois de o Muro de Berlim ser erguido, a separação da família e a chegada de uma carta anónima deixam-na na mais profunda depressão.


M. nasce após a divisão das duas Alemanhas e é o fruto perfeito do socialismo: uma mãe ausente e educada por uma ama que adora plantar, M. idolatra o pai, desconhecendo por completo o mundo ocidental e o crescendo ao sabor de uma realidade distorcida. Até que, um dia, ao ouvir o testemunho chocante de uma rapariga, descobre que, afinal, não é só o Muro que tem um outro lado.



Confesso que comecei a ler esta história completamente a zeros, sem saber o que esperar, mas com muita curiosidade de descobrir a escrita da Luísa Sobral - sobretudo depois de já ter ouvido opiniões positivas relativamente a este livro. Não criei logo conexão com as personagens ou entrei facilmente na história, admito, provavelmente pela sua estrutura peculiar e por não ser tudo muito claro logo desde início, mas, aos poucos, fui-me deixando levar e acabei por criar, de certo modo, uma ligação afetiva com a M. e as restantes personagens.


A escrita da Luísa foi uma surpresa incrível: uma prosa lindíssima com toques que me lembram poesia, citações tão bonitas que só me apetecia marcar o livro todo, uma forma tão delicada de nos fazer passar uma mensagem tão bonita e triste ao mesmo tempo. Senti-me emocionada com o desenrolar da história e com o desfecho das personagens. Tiveram o final que mais sentido fazia e, na minha opinião, um final feliz. A Luísa conseguiu criar luz no meio da escuridão, mostrar que vamos sempre a tempo de mudar a nossa vida e de lhe dar o rumo que achamos que é melhor para nós e que nos faz mais sentido, independentemente da idade que tivermos. Somos nós quem tem as rédeas da nossa vida, só temos de aprender a controlá-las - e foi isso que a M. foi fazendo ao longo de todo o livro.


Esta história foi inspirada numa notícia real que a Luísa leu e, depois de ter terminado o livro, fui fazer a minha pesquisa também para conhecer a verdadeira histórias que deu origem a este livro. Se tiverem curiosidade de saber mais, podem ler esta reportagem do Público e deixo-vos também a música que a Luísa escreveu, inspirada nesta mulher incrível, Maria Feliz.



Tenho cada vez mais gostado de descobrir autores portugueses e tenho descoberto o quão incrível é aquilo que se produz no nosso país. Se gostam de descobrir autores portugueses, este é um livro que vos recomendo muito, até pela história tão bonita que nos traz.


Sem comentários:

Com tecnologia do Blogger.