"Nem Todas as Árvores Morrem de Pé" | Review
Nem Todas as Árvores Morrem de Pé é a estreia como autora de ficção da Luísa Sobral. Este livro é um romance sobre duas mulheres unidas pela desilusão e pelos cinquenta anos mais tristes da história da Alemanha. Emmi, que nasceu pouco antes da ascensão ao poder de Hitler na Alemanha, perde o pai na guerra e tem uma adolescência difícil, trabalhando desde muito cedo para ajudar em casa. É num bar aonde vai com os amigos depois do trabalho que conhece Markus, um homem de Berlim Leste que lhe escreve cartas de amor e por quem se apaixona perdidamente.
Apesar de a mãe torcer o nariz ao seu casamento num momento em que a Guerra Fria está ao rubro, a irmã apoia-a e Emmi acaba por ir viver com Mischa, como lhe chama, para a RDA. Inicialmente, tudo corre de feição, mas, depois de o Muro de Berlim ser erguido, a separação da família e a chegada de uma carta anónima deixam-na na mais profunda depressão.
M. nasce após a divisão das duas Alemanhas e é o fruto perfeito do socialismo: uma mãe ausente e educada por uma ama que adora plantar, M. idolatra o pai, desconhecendo por completo o mundo ocidental e o crescendo ao sabor de uma realidade distorcida. Até que, um dia, ao ouvir o testemunho chocante de uma rapariga, descobre que, afinal, não é só o Muro que tem um outro lado.
A escrita da Luísa foi uma surpresa incrível: uma prosa lindíssima com toques que me lembram poesia, citações tão bonitas que só me apetecia marcar o livro todo, uma forma tão delicada de nos fazer passar uma mensagem tão bonita e triste ao mesmo tempo. Senti-me emocionada com o desenrolar da história e com o desfecho das personagens. Tiveram o final que mais sentido fazia e, na minha opinião, um final feliz. A Luísa conseguiu criar luz no meio da escuridão, mostrar que vamos sempre a tempo de mudar a nossa vida e de lhe dar o rumo que achamos que é melhor para nós e que nos faz mais sentido, independentemente da idade que tivermos. Somos nós quem tem as rédeas da nossa vida, só temos de aprender a controlá-las - e foi isso que a M. foi fazendo ao longo de todo o livro.
Esta história foi inspirada numa notícia real que a Luísa leu e, depois de ter terminado o livro, fui fazer a minha pesquisa também para conhecer a verdadeira histórias que deu origem a este livro. Se tiverem curiosidade de saber mais, podem ler esta reportagem do Público e deixo-vos também a música que a Luísa escreveu, inspirada nesta mulher incrível, Maria Feliz.
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