"Binding 13" e "Keeping 13" | Review Dupla
Acho que já por várias vezes partilhei aqui convosco que não sou o tipo de pessoa que gosta de ler/ver determinado livro/série/wtv quando está com muito hype e toda a gente fala do assunto, porque eu acho que as probabilidades de eu sair desiludida aumentam exponencialmente. É óbvio que quanto todo o booktok e bookstagram começou a falar da série Boys of Tommen da Chloe Walsh, eu fiquei com o bichinho da curiosidade dentro de mim, mas acabei por ver/ler opiniões tão diversas e opostas, que fiquei com algum receio e quis deixar passar algum tempo e acalmar toda a febre. Entretanto, uma das minhas melhores amigas leu a série e adorou, então isso foi o meu gatilho para decidir avançar e começar a ler a saga.
Binding 13 leva-nos até Ballylaggin, uma pequena cidade do condado de Cork, na Irlanda. Johnny Kavanagh é uma estrela em ascensão do rugby: nascido para brilhar em campo, é uma força da natureza, com uma mente forte e determinada, nada pode abalar as suas certezas nem distraí-lo da sua escalada para o sucesso. Ou quase nada. Um remate falhado vai fazer o seu mundo colidir com o da recém-chegada ao Colégio Tommen, a misteriosa Shannon Lynch. Quem será aquela rapariga pequena de olhos tristes que se esforça tanto por ser invisível?
Para Shannon, a vida nunca foi fácil, nem dentro nem fora de casa. Tem a esperança de poder começar de novo em Tommen, mas é difícil livrar-se de um passado tão negro, dos demónios que sempre a atormentaram. Até que é surpreendida por um encontro que faz estremecer os muros que passou a vida a erguer à sua volta. Nos olhos de Johnny, reconhece de imediato uma inquietação semelhante à sua e é impossível não se deixar envolver por ela. Entre violência, paixão, raiva e muitos segredos, surge uma atração que não conhece regras e que ameaça alterar para sempre o jogo das suas vidas.
Uma opinião negativa que eu tinha ouvido relativamente a este livro era o seu tamanho, o facto de ter muitas páginas e de, para muita gente, se tornar seca porque as coisas podiam acontecer mais rápido. Eu não sou dessa opinião. Não me fez qualquer confusão o livro ter 800 páginas, primeiro porque sou fã de um bom slow burn e, neste contexto da história, acho que fez todo o sentido que assim fosse e, em segundo lugar, porque assim que fiquei envolvida pela história, nem me apercebi do tamanho do livro, só queria ler para saber mais e mais.
Das minhas coisas favoritas neste livro - além do facto de irmos conhecendo as personagens que vão compondo este grupo de amigos e que são absolutamente deliciosas, na minha opinião -, é a forma como, no início, as interações entre a Shannon e o Johnny são super constrangedoras, porque eu acho que isso consegue refletir bem a forma como os adolescentes se comportam, sobretudo quando estão a descobrir os primeiros amores. Os capítulos da perspetiva do Johnny são, na minha opinião, os mais engraçados, por causa da forma como ele reage sempre que vê a Shannon ou ela está por perto e por causa das interações com o Gibsie. Por outro lado, das coisas que menos gostei é a forma como eles fazem questão de realçar o facto de o Johnny ser mais velho que a Shannon quando, na verdade, eles têm só dois anos de diferença, o que eu acho que não é assim tanto.
Não vou mentir: sofri muito com a Shannon e os irmãos dela, porque a situação familiar deles é horrível. E é ainda mais triste quando pensamos que não é só ficção: infelizmente, há histórias destas a desenrolarem-se na vida real todos os dias. Foi bonito ver a relação da Shannon e do Joey, como se apoiam um no outro e como tentam fazer o melhor que podem pelos irmãos mais novos, e também gostei imenso da forma como o Johnny acaba por tentar ir ajudando da melhor forma que pode, muitas vezes, sem perceber o que realmente está a acontecer. O final do livro despedaçou completamente o meu coração, não consegui não chorar com a forma como tudo se desenrolou, e foi impossível não querer começar logo o livro seguinte para perceber como tudo se iria desenvolver.
Em Keeping 13, encontramos um Johnny que não quer desistir dos seus sonhos, apesar de uma lesão grave o ter obrigado a afastar-se dos campos de rugby. Felizmente, tem Shannon ao seu lado a ajudá-lo a manter-se focado no objetivo. Por outro lado, Shannon mantém um véu de mistério que ninguém consegue alcançar. Tendo aprendido às suas custas que os demónios não existem só nos contos de fadas, ela esconde melhor que ninguém os dramas da vida e os segredos da família Lynch. Contudo, como um jogador determinado que é, Johnny rapidamente percebe que, nesta partida, é proibido perder, porque o troféu em jogo, desta vez, é a sua felicidade.
Neste livro, o Johnny prova, uma vez mais, que tem um coração do tamanho do mundo e a intensidade daquilo que ele sente pela Shannon. A forma como ele a protege, tenta cuidar dela e dos irmãos dela, derrete-me absolutamente o coração e, quando conhecemos melhor os pais dele, percebemos de onde é que ele herdou a sua bondade e generosidade. As cenas do Johnny com o Joey também são muito fortes e eu gosto muito da relação deles, embora não seja propriamente pacífica, acho que, no fundo, se torna quase uma relação entre irmãos.
As interações com as outras personagens foram das minhas coisas favoritas deste livro, porque vamos conhecendo todas um pouco melhor e percebendo melhor o papel delas na vida da Shannon e do Johnny. O Gibsie continua a ser a luz neste livro, a fazer rir nos momentos mais difíceis, mas também começamos a perceber outras dimensões dele, que me deixam muito ansiosa por ler o livro dele. Outra personagem que me conquistou foi o Taghd - partiu-me o coração quase na mesma medida em que me fez rir com a sua personalidade semelhante à do Joey.
Com este segundo livro, conhecemos o mais velho dos irmãos Lynch, o Darren, que foi provavelmente uma das personagens que mais conflito gerou em mim neste livro. Por um lado, é óbvio que as intenções dele são as melhores, de tentar ajudar, mas, por outro lado, acaba por vir um bocadinho tarde demais e chega para tentar remendar as coisas à maneira dele, tentando ignorar os sentimentos e os traumas dos irmãos que aguentaram o barco enquanto ele esteve fora. Houve mesmo momentos em que o detestei, mas acho que ele conseguiu redimir-se e inclusivamente até fiquei com vontade que houvesse um livro sobre a história dele, para poder percebê-lo melhor.
Embora tenhamos alguns momentos mais leves e descontraídos e muitos momentos queridos entre a Shannon e o Johnny, também existem várias cenas pesadas que mexeram muito comigo - sobretudo as cenas relativas aos pais da Shannon e também quando desvendamos um bocadinho do passado do Gibsie. Foram capítulos duros de ler, mas que eu acho que têm exatamente o impacto esperado. Apesar de isto serem livros de romance adolescente, não deixam de tocar em temáticas muito fortes.
Em geral, estes dois livros ganharam totalmente o meu coração. Tinha algum receio que, pelo facto de estar a ler em inglês e a autora usar alguns termos irlandeses, fosse dificil de ler, mas achei que é bastante acessível e, em ambos os livros, ajuda bastante que a autora coloque um glossário com os termos mais diferentes e inclusive explique como se pronunciam os nomes mais estranhos.
A minha maior "crítica" a estes dois livros é o facto de alguns capítulos serem muito extensos - o que, na verdade, é mais uma questão de gosto e preferência, porque eu sinto que leio melhor e com mais facilidade livros em que os capítulos são mais curtos. Acho que, em alguns desses capítulos, se dá relevo a coisas pouco importantes e, noutras situações, gostava que tivessem explorado mais do que o que efetivamente exploraram. Mas, tirando isso, acho que, se quiserem conhecer esta história, não devem ficar logo de pé atrás pelo tamanho do livro, porque se se envolverem realmente no enredo, nem vão dar pelo tamanho do livro.
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