"Gente Ansiosa" | Review
Caminhamos na rua todos os dias demasiado focados em nós mesmos para sermos capazes de olhar as pessoas à nossa volta. Bem, talvez as olhemos, mas não as vemos realmente. Às vezes, podemos dar por nós especular sobre as suas vidas - e nesses casos acho que temos uma tendência natural para imaginar sempre algo bom, grandioso, com aventuras ou então apenas uma vida meramente normal -, mas raramente paramos realmente para ver, para nos questionarmos quem será aquela pessoa e quais serão as suas batalhas.
Porque a realidade é que todos temos as nossas batalhas. Umas mais duras que outras. Cada um carrega o peso do seu fardo e, geralmente, achamos que é sempre mais pesado o nosso que o do vizinho do lado. Porque tendemos a achar que as vidas dos outros são sempre perfeitas. Mas se pudéssemos realmente ver, perceber, descobriríamos que todos temos esqueletos no armário e fantasmas na cabeça, que temos dias melhores e piores e que, no fim do dia, somos todos feitos da mesma matéria.
Para mim, esta é a grande mensagem por trás de Gente Ansiosa, do Fredrik Backman. Nesta história, encontramos um grupo peculiar de pessoas, desconhecidos, que se encontram numa situação também ela bastante peculiar e, por isso, são obrigados a passar algum tempo juntos e a conhecer-se. Porque a verdade é que visitar um apartamento que está à venda não costuma redundar numa situação de perigo. A menos que seja antevéspera de Ano Novo e um ladrão inexperiente tenha decidido assaltar um banco onde não há dinheiro físico. Quando assim é, torna-se inevitável que não haja sequer um plano de fuga e se acabe com uma data de reféns acidentais. Felizmente, podemos confiar na pronta intervenção das autoridades. A menos que os dois polícias responsáveis pelo caso não se entendam nem saibam o que fazer. Ainda assim, acreditamos que tudo correrá bem, em particular se os reféns permanecerem calmos. A menos que sejam os reféns mais idiotas de todos os tempos: uma analista bancária com ideias suicidas, uma adorável velhinha com motivações pouco transparentes, um casal reformado com uma enorme paixão pelo IKEA, duas recém-casadas prestes a ser mães e que andam sempre às turras, uma agente imobiliária com entusiasmo a mais e talento a menos e uma pessoa com uma cabeça de coelho.
Visto assim, isto parece a história mais aleatória de sempre. Quando começamos a ler, tudo parece meio descabido e patético. Mas depois vamos percebendo que tudo - mas mesmo tudo - tem uma razão de ser. Os pontinhos começam a ligar-se com o avançar da história, as personagens vão-se tornando cada vez mais humanas (e menos idiotas), os acontecimentos começam a ganhar lógica e sentido e nós vamos percebendo que, na verdade, estamos perante um grupo de pessoas perfeitamente normais, com dúvidas, ansiedades, medos, com problemas, mas que decidem usar uma máscara para se esconder do mundo e para se protegerem. Tal como a maioria de nós o faz diariamente.
Não precisei de muito para me sentir conquistada por este livro, até porque a escrita de Fredrik Backman me convence facilmente. Já o tinha sentido em Um Homem Chamado Ove (review aqui), mas achei mais notório neste livro: a forma como ele mistura o humor e a ironia com temas sérios e pesados, sem os banalizar ou desvalorizar, é de uma mestria gigante e sem dúvida que é prova do quão incrível é enquanto escritor. Já quero ler tudo o que o Fredrik Backman escreve!
Este é um daqueles livros que vou passar a recomendar a toda a gente, porque acho que todos nos vamos rever numa coisa ou outra e todos temos algo que podemos refletir e aprender com esta história.
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