"Mulheres da Minha Alma" | Review

Nos últimos dias de junho, realizou-se a Feira do Livro em Coimbra. Não é, obviamente, uma feira com a dimensão da de Lisboa ou do Porto, tem muito menos expositores e, consequentemente, promoções muito menos apetecíveis, mas eu acredito que o maior truque é saber procurar bem. Na edição deste ano, acabei por trazer três livros para casa, apenas um dos quais estava na minha wishlist e, por sinal, foi o único que não comprei em segunda mão e que não estava com um preço nada de especial. O livro de que vos venho falar hoje já tinha pertencido a alguém - ao/à Zé, seja lá quem for - e por isso comprei-o a menos de metade do preço normal e em ótimo estado. Só por isso, fiquei logo satisfeita, mas confesso que fiquei ainda mais satisfeita quando comecei a lê-lo e percebi que ia gostar muito. 

Mulheres da Minha Alma é um livro em que Isabel Allende percorre os labirintos da sua memória e nos oferece um testemunho brilhante sobre a sua relação com o feminismo e a sua condição de mulher. Acompanhamos a autora numa viagem desde a infância até aos dias de hoje, na qual recorda algumas mulheres incontornáveis na sua vida: Panchita, Paula e a agente Carmen Balcells, cuja ausência chora ainda hoje; recorda escritoras como Margaret Atwood, jovens artistas que trazem na pele a rebeldia das novas gerações, mulheres anónimas que sofreram na pele a violência de género e que, com dignidade e coragem, se levantam e avançam. Todas essas mulheres a inspiram e a acompanham ao longo da vida: as mulheres da sua alma. Reflete ainda sobre as mais recentes lutas sociais, nomeadamente as revoltas no seu país de origem e sobre o contexto social trazido pela pandemia, altura em que escreveu este livro. Faz todas estas reflexões sem deixar de manifestar a sua inconfundível paixão pela vida e a sua crença em que, independentemente da idade, há sempre tempo e espaço para o amor. (adaptado de Wook)

Tenho de admitir que comecei esta leitura com algum receio, porque foi a primeira vez que li algo da Isabel Allende (apesar de ser um nome tão sonante da literatura internacional) e porque estava com receio de que o meu primeiro contacto com ela fosse com um livro de não-ficção, autobiográfico, de certo modo. Contudo, bastaram-me as primeiras páginas para ter a certeza de que não me iria arrepender. Logo nos primeiros capítulos fui resgatar os post its para marcar os capítulos favoritos e guardei algumas das minhas passagens favoritas. 

A forma como Isabel escreve este livro faz parecer que é uma conversa entre duas amigas, em que ela partilha algumas das suas memórias de vida e sobre as suas crenças. Vai partilhando um pouco da sua realidade, do meio machista em que cresceu e da forma como isso fez que se tornasse feminista mesmo antes de saber o que isso significava. Partilha também um pouco das várias realidades com que foi contactando ao longo da sua vida, as mulheres que conheceu, as histórias que lhe foram contando, assim como alguns poemas e citações de outros autores sobre o tema. No fim do livro, sinto que saí muito mais rica a nível cultural com tudo o que aprendi com a autora.

Como mulher e feminista, ler este livro inspirou-me. Por um lado, relembrou-me do imenso caminho que nós, mulheres, temos trilhado ao longo dos anos, mas também me fez ver que ainda há muito a fazer. Infelizmente, há sítios no mundo em que as mulheres continuam a ser maltratadas e tratadas como inferiores aos homens, como se fossem escravas deles. Curiosamente, li este livro pouco depois de ter assistido ao filme Barbie (cuja review podem ler aqui), o que fez ainda mais sentido e deu ainda mais relevo a estas minhas reflexões.

Acho que este é um daqueles livros para toda a gente: para mulheres, homens, adolescentes, adultos; para feministas e para todos aqueles que ainda não compreendem o feminismo; para pessoas que já sofreram na pele as desigualdades de género e para todos os privilegiados que nunca tiveram de passar por isso. É, acima de tudo, um livro para quem procura olhar o mundo como ele é e mudá-lo para que possa ser cada vez melhor. 

É um livro que se lê super rápido, porque é pequenino e os capítulos raramente ocupam mais do que uma folha. A escrita da autora é super fluída e cativante, por isso é daqueles livros para ler em poucos dias. Acho que é candidato a um dos favoritos do ano e vai passar a ser daqueles que vou começar a recomendar a toda gente!

Desse lado, já leram alguma coisa da Isabel Allende? E este livro em particular já conheciam?