Normalmente, a minha escolha de leituras recai sempre sobre livros de ficção. Não sei bem porquê, mas acho que eu adoro a magia de entrar num mundo novo, alternativo, de conhecer "pessoas novas" e de viver os seus dramas como se fossem meus. Na verdade, sou uma apaixonada por romances e outras coisas que tal. Contudo - e apesar de eu achar que qualquer tipo de livro é uma fonte de cultura e conhecimento -, tenho vindo a ganhar uma grande vontade de ler mais não-ficção, porque sinto que este tipo de livros nos abre imenso os horizontes e nos permite aprender imenso sobre o "mundo real", sobre tempos que não vivemos, pessoas que não conhecemos, sítios que nunca visitámos e até sobre temas que não dominamos. Acho que a não-ficção é uma das fontes mais ricas de conhecimento e cultura geral e acho super importante lermos coisas diversificadas para nos podermos tornar pessoas culturalmente mais ricas.
Assim, um dos meus objetivos de leitura para este ano era começar a ler mais coisas diferentes, nomeadamente livros de não-ficção. Iniciei, então, o meu percurso nesta área com o livro de que vos venho falar hoje. E por que é que o escolhi para me iniciar? Bem, não há uma grande justificação. Ele estava na estante da minha irmã, ela já o tinha lido e tinha gostado bastante e fala sobre um tema sobre o qual tenho grande interesse e curiosidade, por se tratar de uma parte muito importante da nossa história.
«Vendo chegar a viatura oficial com o porta-bagagem carregado de lenha, o chefe do Governo gritou irado à sua governanta:
"Os carros do Estado não são para carregar lenha! Não consinto!". A mulher não se ficou e gritou no mesmo tom:
"Merda! A lenha não é para mim, é para o Salazar!". Quem se atreveu a gritar assim a António de Oliveira Salazar, homem temido e respeitado por todos, foi Maria de Jesus Caetano Freire, a sua dedicada e fiel companheira ao longo de toda uma vida. Nascida no seio de uma pobre família camponesa no lugar de Freixiosa da freguesia de Santa Eufémia, no concelho de Penela, distrito de Coimbra, aos 31 anos começou a servir os então lentes universitários e amigos Manuel Gonçalves Cerejeira e António de Oliveira Salazar. Seguiu este último para Lisboa (ao mesmo tempo que o primeiro subia ao lugar mais alto da hierarquia católica em Portugal) e só o abandonou quando, aos 81 anos, o ditador morreu por doença. Maria de Jesus tinha cumprido a missão da sua vida. Nunca casou, nem teve filhos. Mulher dura, forte, atenta, de uma dedicação canina, foi intendente, organizadora das lides domésticas, secretária, companheira, portadora de recados e pedidos, informadora de murmúrios e opiniões que mais ninguém se atrevia a expressar, conselheira e até enfermeira, nos seus últimos tempos de vida, do fundador e líder do Estado Novo. D. Maria foi tudo isto, e por isso merece um lugar de destaque na História do século XX português.» (
fonte)
Este livro leva-nos, então, numa viagem ao longo de mais de 40 anos da história do nosso Portugal. Desde que Maria foi servir Salazar e Cerejeira, em Coimbra, até ter seguido o futuro chefe de Governo para Lisboa, onde o acompanhou durante todo o seu governo até à sua morte. Somos brindados com testemunhos de várias pessoas que privaram quer com Maria, quer com Salazar, e que nos dão testemunho sobre a personalidade de ambos e da relação que partilhavam. Se Salazar era o chefe do Governo, Maria era a chefe da casa de S. Bento; se ele era o ditador do país, ela era a ditadora da casa - e talvez por isso se tenham sempre entendido tão bem.
É claro que há muitos relatos que levantam dúvidas e incoerências, mas este livro dá-nos uma ideia de como terá sido a convivência destas duas personalidades ao longo de tantos anos e também de como era a vida dentro da casa que habitavam. Percebemos, então, o papel importante que Maria de Jesus teve na vida de Salazar - mais do que a pessoa que organizava a casa e garantia que tudo funcionava nos conformes, Maria era quase um filtro do que passava do povo para Salazar, das mensagens que lhe enviavam, das pessoas que o visitavam. Tornou-se uma espécie de elo de ligação entre o "mundo exterior" e o "mundo de S. Bento", especulando-se até sobre a sua importância nalgumas das decisões políticas tomadas por Salazar.
Pessoalmente, acho que este é um livro de
leitura extremamente agradável, que se pode ler com tempo.
Permitiu-me aprender e perceber coisas sobre aquela época que eu não sabia - porque não a vivi e porque fica muito por explicar na disciplina de História. Não é um livro nada pesado, cheio de factos históricos, mas é sim
um relato sobre a vida desta Maria de Jesus, uma jovem oriunda de Penela, que dedicou toda a sua vida a Salazar. Se gostam de não-ficção e este é um tema que vos desperta interesse,
sem dúvida que recomendo esta leitura.
Já conheciam/leram este livro? Têm por hábito ler não-ficção?
Não conhecia, mas parece interessante.
ResponderEliminarBeijinhos