Que o grito se torne eco!
Estamos a viver uma época
conturbada. 2020 tem sido um ano caótico e quando achamos que nos estamos a
começar a “livrar” de uma pandemia que mudou toda a nossa vida, surge uma nova
temática que poderia dizer só respeito aos EUA, mas que rapidamente se
disseminou por todo o mundo. Nós temos esta mania de achar que somos povos
muito avançados, civilizações modernas, mas depois damos por nós a continuar a
ter discussões sobre racismo e xenofobia, a ver pessoas a ser mortas às mãos
(ou devia dizer aos joelhos?) de um polícia porque têm uma cor de pele
diferente. E achamos sempre que isso é “lá no país deles”, que é um problema
dos outros, mas se pararmos e refletirmos sobre o assunto, não será isso algo
transversal a todas as sociedades atuais? Porque eu sinto que quanto mais
modernas se tornam as civilizações, mais discrepantes se tornam as diferentes
entre grupos sociais, mais preconceituosas as pessoas se tornam, mais se
exacerbam as hierarquias e mais as pessoas têm a mania da superioridade. Por
isso, em vez de evoluirmos, começamos a regredir.
Historicamente, isto já aconteceu
antes. Por isso se aboliu a escravatura. Por isso aconteceu a II Guerra
Mundial. Por isso aconteceu o Apartheid. Porque as minorias, os “mais fracos”,
decidiram que tinham de se revoltar contra o regime, contra aqueles que estavam
mal, contra a discriminação. Ergueram as suas vozes o mais alto que puderam até
que o seu grito fosse ouvido e se tornasse o eco na cabeça de todos.
Gostava que este fosse um desses
momentos históricos, desses gritos que às vezes mesmo sussurrados nos correm as
veias, deixam cada pelo do nosso corpo eriçado e nos aceleram o coração.
Gostava que isto fosse um sinal de mudança. Gostava que todos esses políticos
megalómanos e ditadores desaparecessem da face da terra ou que, pelo menos, as
pessoas que neles acreditam como se fossem crianças à espera de um doce
percebessem a realidade; percebessem que vivemos num mundo onde as
discrepâncias entre grupos sociais aumentam, colocando um fosso entre eles
impossível de transportas, e que só irão acabar quando esse tipo de gente parar
de instigar o ódio e começar a proclamar a paz. Mas sonhar com um mundo assim é
uma utopia, não é?
Eu cá continuo a rever os meus
valores, a repensar as minhas atitudes e a olhar para a sociedade onde me
insiro segundo uma nova perspetiva. Talvez um dia descubra uma forma de a
mudar, de que o grito murmurado de todas as pessoas que sonham com um mundo em
que há igualdade, paz e justiça se torne ensurdecedor e fique a ecoar no
Universo.
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