Que o grito se torne eco!

junho 03, 2020

Estamos a viver uma época conturbada. 2020 tem sido um ano caótico e quando achamos que nos estamos a começar a “livrar” de uma pandemia que mudou toda a nossa vida, surge uma nova temática que poderia dizer só respeito aos EUA, mas que rapidamente se disseminou por todo o mundo. Nós temos esta mania de achar que somos povos muito avançados, civilizações modernas, mas depois damos por nós a continuar a ter discussões sobre racismo e xenofobia, a ver pessoas a ser mortas às mãos (ou devia dizer aos joelhos?) de um polícia porque têm uma cor de pele diferente. E achamos sempre que isso é “lá no país deles”, que é um problema dos outros, mas se pararmos e refletirmos sobre o assunto, não será isso algo transversal a todas as sociedades atuais? Porque eu sinto que quanto mais modernas se tornam as civilizações, mais discrepantes se tornam as diferentes entre grupos sociais, mais preconceituosas as pessoas se tornam, mais se exacerbam as hierarquias e mais as pessoas têm a mania da superioridade. Por isso, em vez de evoluirmos, começamos a regredir.

Historicamente, isto já aconteceu antes. Por isso se aboliu a escravatura. Por isso aconteceu a II Guerra Mundial. Por isso aconteceu o Apartheid. Porque as minorias, os “mais fracos”, decidiram que tinham de se revoltar contra o regime, contra aqueles que estavam mal, contra a discriminação. Ergueram as suas vozes o mais alto que puderam até que o seu grito fosse ouvido e se tornasse o eco na cabeça de todos.

Gostava que este fosse um desses momentos históricos, desses gritos que às vezes mesmo sussurrados nos correm as veias, deixam cada pelo do nosso corpo eriçado e nos aceleram o coração. Gostava que isto fosse um sinal de mudança. Gostava que todos esses políticos megalómanos e ditadores desaparecessem da face da terra ou que, pelo menos, as pessoas que neles acreditam como se fossem crianças à espera de um doce percebessem a realidade; percebessem que vivemos num mundo onde as discrepâncias entre grupos sociais aumentam, colocando um fosso entre eles impossível de transportas, e que só irão acabar quando esse tipo de gente parar de instigar o ódio e começar a proclamar a paz. Mas sonhar com um mundo assim é uma utopia, não é?

Eu cá continuo a rever os meus valores, a repensar as minhas atitudes e a olhar para a sociedade onde me insiro segundo uma nova perspetiva. Talvez um dia descubra uma forma de a mudar, de que o grito murmurado de todas as pessoas que sonham com um mundo em que há igualdade, paz e justiça se torne ensurdecedor e fique a ecoar no Universo.





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