"A Filha do Capitão" | Review

Não sei quanto a vocês, mas, para mim, há livros que me assustam e para os quais preciso de ganhar coragem antes de começar a ler - seja porque são livros muito conhecidos e muito falados, altamente aclamados pela generalidade da sociedade, ou porque são livros muito fora da caixa e controversos ou porque são demasiado grandes ou porque já ouvi opiniões muito diversas... São vários os motivos que me fazem ter alguma reticência em ler determinado livro. O livro de que vos venho falar hoje está parado nas estantes cá de casa há muitos anos. Foi oferecido à minha irmã há imenso tempo e ela nunca acabou de o ler porque não gostou. E isso foi um dos principais motivos que me fez esperar tantos anos para o ler - porque eu sou aquele tipo de pessoa que, mesmo quando não está a gostar de um livro, não desiste de o ler até ao fim porque fica sempre à espera do momento em que a história vira e se torna interessante. Portanto, este livro assustava-me pelo tamanho e pelo facto de eu ter medo de não gostar, até porque nunca li nada do autor.

A Filha do Capitão, de José Rodrigues dos Santos, leva-nos até ao cenário da Primeira Guerra Mundial e divide-se entre França e Portugal. O capitão Afonso Brandão mudou a sua vida quase sem o saber quando, numa fria noite de boleto, prendeu o seu olhar numa bela francesa de olhos verdes e voz de mel. O oficial comandava uma companhia da Brigada do Minho e estava havia apenas dois meses nas trincheiras da Flandres quando, durante o período de descanso, decidiu ir pernoitar a um castelo perto de Armentières. Conheceu aí uma deslumbrante baronesa e entre eles nasceu uma atração irresistível. (fonte)

Começo já por dizer que considero esta sinopse extremamente redutora para descrever esta história, porque, na minha opinião, o romance é só uma parte do que é A Filha do Capitão - há muito mais nas páginas deste livro. Aproveito também para dizer que, indo eu preparada para o pior, este livro foi uma boa surpresa. Não será um favorito do ano, quase de certeza, mas não sinto que tenha feito um grande esforço para o ler. 

Para mim, o mais interessante deste livro, paralelamente à questão do desenvolvimento de um bonito romance entre Agnés e Afonso, foi a descrição da guerra e da vida nas trincheiras, porque é um assunto sobre o qual eu tenho pouco ou nenhum conhecimento. Achei interessante todas as descrições da vida nas trincheiras, daquela realidade difícil e também daquilo que os homens sentiam e pensavam ao estar lá, a ver companheiros morrerem à sua frente, a viver sempre com medo do momento em que eles próprios morreriam. Sem dúvida que isso foi aquilo que eu mais gostei neste livro.

Contudo, também houve coisas que não gostei tanto. A primeira coisa que me aborreceu um pouco foi o facto de haver capítulos muito longos e, por vezes, maçadores. Eu sou uma pessoa que odeia deixar capítulos a meio, mas, neste livro, tive de o fazer algumas vezes. Outra coisa que não adorei na escrita de José Rodrigues dos Santos foi o facto de ele ser muito descritivo, o que não seria propriamente mau não fosse ele descrever, por vezes, coisas sem qualquer relevância para a história. Tenho mesmo de admitir que, num dos capítulos iniciais, li um ou dois parágrafos na diagonal, enquanto ele descrevia todos os pavilhões da Expo em Paris. Acho que o livro podia ser um pouco menor se ele se tivesse focado apenas nas coisas importantes e tivesse deixado de fora algumas coisas que têm pouca ou nenhuma importância para a história. Por fim, senti também que o final deixou um pouco a desejar - não sei exatamente o que eu esperava que acontecesse, mas esperava algo diferente com certeza.

De uma forma geral, eu gostei do livro e da história. Não fiquei fã de José Rodrigues dos Santos e não sei se voltarei a ler algo dele, mas gostei de aprender algumas coisas sobre a Primeira Guerra Mundial. Se gostam destes temas e não se importam de ler coisas mais descritivas, acho que este pode ser um livro interessante para vocês.

Já leram este livro ou algum outro do autor? O que acharam?