"As Nadadoras": O Peso das Histórias Reais
Não sei quanto a vocês, mas quando começo a ler um livro ou ver uma série ou um filme que eu sei que tem por base uma história real, eu sinto que ganha logo outro peso. Eu vou a saber de antemão que, com mais ou menos floreados, aquilo aconteceu a alguém real. Foi sabendo isto - embora sem ter noção da magnitude - que decidi assistir ao filme As Nadadoras (disponível na Netflix).
Este filme conta a história de duas irmãs que fugiram da Síria para a Europa, tornando-se refugiadas. Esta é a história de Yusra e Sara Mardini, irmãs que participam em competições de natação no seu país, a Síria — onde vivem com os pais, a irmã mais nova e o pássaro de estimação. Tinham vidas normais e felizes. Mas em 2015 a guerra civil eclode no seu país e, depois de viverem uma experiência traumatizante, em que uma bomba atinge o complexo de piscinas enquanto Yusra está numa prova de natação, as irmãs percebem que não é mais seguro viverem no seu país. Então, com o primo Nizar, viajam até à Turquia, de onde apanham um barco para Lesbos. E esta é a parte que todos já vimos nas notícias demasiadas vezes: barcos sem quaisquer condições, com demasiada gente a lutar para chegar a um destino que lhes permita viver uma vida melhor. Dali em diante, a vida das irmãs não fica mais fácil: as provações são grandes, os desafios que põem a sua segurança em risco estão sempre ao virar da esquina, o preconceito dos europeus, as pessoas que se tentam aproveitar da situação frágil em que vivem. O caminho é longo e sinuoso, mas as irmãs conseguem chegar ao destino pretendido - a Alemanha - e ali encontram a sua oportunidade de uma vida melhor.
O final da história pode ser feliz, mas o trajeto até lá chegar foi duro. Demasiado duro para duas miúdas tão jovens. Para qualquer pessoa. As irmãs Mardini tiveram o seu "final feliz", mas há milhares e milhares de pessoas que não o têm. E foi essa lembrança constante na minha cabeça, a angústia no meu peito ao imaginar aquilo por que elas (e tantas outras pessoas) passaram, a sensação de impotência e frustração perante a injustiça, que me deixaram lavada em lágrimas. Não estava preparada para a avalanche de emoções que este filme me trouxe, para a sensação de injustiça e frustração que tomou conta de mim - que ainda toma conta de mim. Tão cedo não vou esquecer esta história, das irmãs Mardini, mas também de milhares de anónimos.
Quando vivemos protegidos na nossa bolha de privilégio, é fácil esquecermo-nos de que nem toda a gente no mundo tem a mesma sorte. É fácil esquecermo-nos de que há pessoas que todos os dias lutam pela sua vida. Que acordam ao som de bombas. Que se deitam ao som de tiros. Que deixam a sua família para trás em busca de uma vida melhor. Mas nem sempre essa vida está ao virar da esquina. A maioria dessas pessoas luta arduamente para sair do seu país, para não morrer enquanto tentam chegar a um país seguro onde possam reconstruir a sua vida. E quando conseguem chegar, depois de muitas provações e muito sofrimento, ainda se vêem obrigados a lutar contra as burocracias, contra o ódio, contra o julgamento. Lutam a vida toda, uma luta que nunca desejaram.
Tenho a sorte de viver num país em paz. Pode ter muitos defeitos, posso queixar-me todos os dias, mas pelo menos tenho uma casa, comida, água, cuidados básicos de saúde. Tenho a sorte de não ter amigos a morrer em bombardeamentos. Não preciso de atravessar um mar num barco insuflável a meter água, correndo o risco de morrer afogada no meio do mar. Não preciso de fugir. Sou uma privilegiada e às vezes esqueço-me disso.
Por isso, hoje, agradeço pelo privilégio que tenho. Por ter nascido na Europa, em Portugal. Por não passar fome, sede. Por não viver em guerra. Por não ter de fugir do meu país em busca de uma vida melhor. Mas, mais do que agradecer, quero pedir - a Deus, Alá ou a qualquer entidade superior que me esteja a ouvir - que ajude aqueles não têm a mesma sorte que eu. Que lutam todos os dias por uma vida melhor. Dizem que a sorte protege os audazes, por isso espero que possa proteger todos os que têm a coragem de correr para o desconhecido na esperança de que possam encontrar paz.
Olá! Não tenho a certeza se já vi este filme, tenho de confirmar! Mas parece-me ser uma história muito interessante!
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